sexta-feira, 18 de setembro de 2009

RESISTÊNCIA NEGRA SEVERIANA

18 DE OUTUBRO 1968
41 aniversário da
RESISTENCIA NEGRA SEVERIANA
HÁ 41 ANOS- Era fundado o Movimento Negro Contemporâneo de Sergipe, com o signo da mística do Teatro e da Tradição Popular, assinalando o Canto do Povo Populorum Cantun . O Mundo festejava a mudança de Opiniões a Atitudes com diversas ações contestadoras em todos os Continentes.Era a era de sorrir lutando contra as desigualdades por uma ação direta de liberação, a luta por Direitos contra os privilégios.
Luta essa que continua a despeito das ações inovadoras e revolucionárias. O Brasil cristalizava opressões numa ditadura equivocada, repressora e reducionista num centralismo perverso onde as liberdades foram ofuscadas pela violência do poder ditatorial.
No dizer de Mário Maestri in Brasil, 1968 – Assalto ao Céu, a descida ao inferno, salientando O Poder Negro(http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=957)
A situação internacional era tensa e dinâmica. Após o fiasco dos regimes árabes conservadores, com destaque para o Egito, a Síria e a Jordânia, na Guerra dos Seis Dias, contra Israel, de inícios de junho 1967, a guerrilha palestina assumia a luta anti-sionista em lugar das direções conservadoras desmoralizadas. Com a crise econômica chegando aos USA, em boa parte devido aos gastos de guerra, que antes haviam apenas garantido lucros ao grande capital, o movimento pacifista estadunidense questionava duramente a intervenção no Vietnã e os valores do american way of life. O imperialismo yankee era golpeado no próprio ventre. Malcolm X fora assassinado em fevereiro de 1965, em Nova York, mas o black power fortalecia-se e os bairros negros ardiam sob o fogo do ódio da população humilhada. Os hispano-estadunidenses e as próprias populações ameríndias levantavam também a cabeça. No Vietnã, em 30 de janeiro 1968, morreriam os sonhos de vitória militar, com a ofensiva do Ano Ted, durante a qual os vietcongs atacaram mais de trinta cidades sul-vietnamitas e a própria embaixada USA, em Saigon. Entretanto, a classe operária estadunidense mantinha-se imóvel sob a hegemonia do grande capital.
Com o advento da Nova República as ações em torno da Ancestralidade e das Questões e condições do Negro Sergipano, explicitou as manifestações em torno da luta racial num intenso combate ao Racismo e a busca de visibilidade do Coletivo Negro Sergipano, com ações inovadoras.
O Governo das Mudanças, representado pelo PT através da sagração de Luiz Ignácio Lula da Silva a presidência da Republica, desestruturou o signo de luta e cristalizou-se os privilégios em torno do Partido dos trabalhadores através das perseguições as Entidades não alinhadas, trazendo os manifestos da Ditadura Militar e, a militância em torno das questões coletivas foram desviadas para as individuais privilegiando os amigos e lideranças do partido. A transformação do Movimento Negro desestruturou o Coletivo e engessou as ações, criando um universo distante ao combate transformando lideranças em personalidades opressoras da Comunidade Negra em defesa do governo.
Sergipe que detinha um segmento de Entidades Negras forte e combativa, de repente se transformou em canteiro de mendicantes e de milicianos partidários, predadores da comunidade, o Coletivo Negro ficou a deriva sem representação, pois os antigos militantes e lideranças se aliaram ao governo, deixando o Estado sem ações em torno da resistência negra, atendendo a política do partido e do governador, passou de um movimento de mudanças, para movimento partidário.
A Intolerância e o Racismo Institucional cristalizaram pela ausência de Políticas Públicas, governo e Estado, as perseguições se tornaram mais forte que o regime militar, diversas lideranças tiveram cabeças decepadas, alijadas das ações, vilipendiadas e Entidades destruídas e enfraquecidas. Negro contra negros em defesa do governo e do partido com prejuízos para a comunidade, sem Cultura, Educação, Saúde, Segurança, Emprego, criminalizada, discriminada e vilipendiada.
Hoje a trajetória do Fundador do Movimento Negro Contemporâneo de Sergipe é omitida e silenciada pelos próprios negros militantes da milícia partidária. Sem respeito a sua história, sem direitos a expressão e constantemente vilipendiado, assinala os 41 anos de atividades ininterruptas e de luta contra toda forma de discriminação, hoje discriminado e mesmo assim, assinala sempre que pode, o racismo institucional do Estado e do governo, a descaracterização e etnocentrismo da educação, saúde, a violência da segurança e que Sergipe ainda é o Estado mais Racista da Federação.
Sem espaço nas mídia , rádios, jornais e TVs – busca na internet o instrumento de expressar o pensamento do negro revoltado, mesmo tendo paginas de relacionamentos fechadas por ter publicado denuncias raciais contra o governo e contra o PT. Neste sentido a mídia protege ladrões, traficantes e viciados, mas não abre espaço para Severo D’Acelino, para não perderem os privilégios que o governador oferece aos jornais, rádios e televisões, alem dos CCs aos jornalistas.
Hoje o governador tem o controle total do negro. Estamos vivendo o séc 17 em pleno séc 21, quem manda é o governador. Dizer quer os poderes são autônomos é querer demais, só no papel, no mais quem manda e desmanda é o governador deste estado teocrático e racista.
A nossa História é até hoje omitida e vilipendiada, a nossa Cultura, folclorizada e reduzida pelo governo através de suas ações na secretaria de educação , na de cultura e conselho estadual de cultura. Só as ações dos brancos são levadas em conta pelo governador, cultura negra é coisa de preto, de policia e tem de ser aturada como folclore.
Negros no staff do governador são brancos, em pensamento, atitudes e comportamentos. Nunca o governador estimulou ou atendeu manifestos de negros. O “Projeto Cultural de Educação” João Mulungu vai ás Escolas” um projeto afirmativo e vitorioso que era desenvolvido por uma Entidade Negra, no âmbito da Educação e que foi suspenso antes denuncia que o Projeto estava fazendo política para o DEDA, a Entidade Casa de Cultura Afro Sergipana e seu Coordenador José Severo dos Santos, após a vitoria do DEDA, foi excluída das ações do Estado e do projeto do governador, considerada inapta pela secretaria de educação de DEDA, sob o comando da racista do DED e do Secretário Branco que se dizia negro e respeitava Severo quando era reitor da universidade, a racista do DED, Ladeira,professora de historia da universidade desde lá ,já praticava racismo contra Severo.
A nossa cultura considerada baixa e inferior pelo governador e seus seguidores, carece de referencial e a sua produção inexiste, principalmente a literatura. Exemplifica que o Marco de Resistência Negra do Sertão Sergipano, a nossa Constituição consagrou a Lampião. Pois a Área Remanescente de Antigos Quilombos, marco do Patrimônio Afro Sergipano é consagrada a Lampião e o negro ficou de mãos abanando. A mesma coisa se aplica a nossa literatura, pois os negros intelectuais aqui são brancos, daí a literatura não existe.
Considerando a situação encaminhamos solicitação ao governador de um apoio cultural para edição de dois títulos da nossa lavra sobre a literatura Afro Sergipana. VISÕES DO OLHAR EM TRANSE e QUELÓIDE, poemas transculturais do negro sergipano. O processo encaminhado a secretaria de cultura e vetado pelo seu secretário que se mostrou invadido e disse como resposta que” quem manda na secretaria sou eu. Eu sou o secretário, portanto o pedido deveria ter sido dirigido a mim e não ao governador”. Moral da história, os títulos não foram editados e na época era eu, conselheiro estadual de cultura.
Por isso: Sergipe é um Estado tão racista que o negro tem vergonha de ser negro, sobretudo os intelectuais que pensam branco e só produzem textos universais, fugindo do regionalismo, do racial das tradições, usos e costumes do negro. Não retratam as condições e as questões negras, fugindo do reverencial inferior, para situar no grupo dominador negando a Sergipe o manifesto e pujança de sua cultura matriz.
A literatura sergipana é uma literatura branca, eurocêntrica feita por negros estereotipados, sem referencia ou identidade natural. Aqui não há uma literatura negra de eventos, episódios, pensamento, cores e culturas, só se assinala o potencial branco, dominador, etnocêntrica onde o negro quando aparece é cristalizado como coisa, e essa coisificação do negro, exemplifica a filosofia racista e reducionistas dos negros das casas grandes, que almejam a continuidade histórico e cultural do domínio dos senhorial.
O Estado e o governo se omitem , para não investir ou reconhecer a realidade cultural do segmento que eles baniram e que sistematicamente estão cooptando nomes destacados, como personalidades brancas, estes branqueamentos se tornaram tradicional, quando o negro se destaca, automaticamente vira branco, reconhecido pelo Estado e pelos governos, os demais ficam alijados até que o ato se consagre. É o DNA do Poder. O estado e o governo não investem em negros, para eles o negro não tem potencialidade , pensamento ou criatividades só impulsos e criminalidade, cuja cultura é baixa e inferior, tem que ser tratado com rédeas curtas. Com a palavra o governador do PT, o descendente de vaqueiro( talvés ele desconheça que vaqueiro é referencia de negro, pois uma das primeiras ocupação do negro escravisado em Sergipe do Rey, foi de vaqueiro) o Arianista Marcelo Chagas Deda.
VISÕES DO OLHAR EM TRANSE e QUELÓIDE – Poemas tranculturais do negro sergipano, marcos de minha produção literária, indicativo da literatura afro sergipana, anteriormente autorizada a edição pelo governo, mas desautorizada pelo seu secretário de cultura num equivoco histórico, busco agora numa campanha junto a Vereadores da Capital, Deputados Estaduais , Federais e Senadores condições para a edição dos títulos, importantes para o coletivo negro sergipano e o próprio estado que oportuniza a leitura de conteúdo étnico distinto. Na área de educação, tive meu trabalho roubado pelo diretor da SEPIR, trata-se do Livro de Testes, com mais de 600 páginas . A SEPIR disse que publicaria para repassar as escolas de Sergipe, e eu fiquei no prejuízo Carlos Trindade é o responsável por esta tragédia, felizmente meu editor tem a memória. Agora não entrego mais o material sem antes distribuir para evitar esses equívocos . Dirigimos as autoridades nestes termos:
“Cumprimentando Vossa Excelência, vimos postular vosso apoio pessoal, a edição de nossa produção, depositada na SEGRASE a espera de uma ação afirmativa para a impressão.Trata-se de memorial da Literatura Afro Sergipana, representada pelos títulos “QUELOIDE” e “VISÕES DO OLHAR EM TRANSE”
Sabemos não ter credenciais,mérito ou credibilidade para postular tal empresa ,junto Vossa Excelência esse tipo de propositura, mas a importância do manifesto nos anima a pedir Apoio Cultural para a Edições dos títulos.
Nosso manifesto se justifica por causas justas, de eventos que fugiram ao nosso alcance e nos deixaram com sérias dificuldades para gerenciar as conseqüências. Fomos vítimas de diversos eventos, que nos impossibilitaram a realização da produção e nos deixaram extremamente endividados, (nossa sede foi invadida e perdemos tudo, estamos envidando esforços para recuperar o prédio e retornar as ações) há muito desejada e esperada pela comunidade sergipana, uma contribuição ímpar a literatura sergipana em seu signo e conteúdo de inspiração afro, trazendo o pensamento e diversidade do negro em toda a sua expressão política e tradicional.
As cobranças são constantes, principalmente dos grupos ligados as personalidades que contribuíram com suas análises, enriquecendo o conteúdo contextual, dentre elas, Bispos, juristas, psicólogos, historiadores, jornalistas que contribuíram com seus estudos a expressão da obra.
A vossa contribuição, deverá ser encaminhada diretamente a SEGRASE ( Serviços gráficos de Sergipe), em favor das Edições MemoriAfro, e,(estaremos reservando a contra capa, para o Memorial de Apoio Cultural, onde gravaremos para a comunidade a vossa participação na produção da obra.) Não se preocupe a quantidade,contribua de acordo a disposição, esperamos tão somente vossa contribuição para que possamos em tempo, repassar as comunidades as nossas produções literária.
A literatura sergipana é tradicionalmente expressiva e festejada, no entanto, carece da temática negra da produção e presença do negro, como autor e personagem contando e vivendo seus episódios sociais, culturais, políticos , religiosos e tradicionais, expressando sua linguagem e psicologia. Essa literatura é agora, tardiamente, inaugurada pelas edições MemoriAfro que vem sofrendo problemas de continuidades.
A Casa de Cultura Afro Sergipana, fundada em1968, expressa seu manifesto em favor da Literatura Afro Sergipana e das Edições MemoriAfro.
Os títulos , após a edição, serão repassados a comunidade a cinco reais, em favor da Área de Vivencia Social (http://severod.blogspot.com/) , oportunizando a difusão em todo Estado.
Certo de vossa expressão a cultura sergipana.
Respeitosamente,
José Severo dos Santos
Coordenador Geral
CASA DE CULTURA AFRO SERGIPANA ANO DO QUADRAGÉSSIMO PRIMEIRO ANIVERSÁRIO
OUTUBRO 1968. OUTUBRO 2009”
Por entender que: se cada um contribuísse com o mínimo de 200 reais, teríamos a publicação da edição comemorativa e, a trilogia.... estaria composta com o Panáfrica Africa Iya N’La, patrocinada pelo Deputado Jorge Araujo no governo de Albano, quando Secretário da Casa Civil. Mas como se diz lá na Roça: “ Kosi ewe Kosi Orixa”. Pedi não arranca pedaços e não tira a dignidade de ninguém
EU Severo D’Acelino, Militante e Fundador do Movimento Negro em Sergipe, Bahia e Alagoas, Ativista dos Direitos Civis,com um vasto currículo e serviços prestado ao Estado e ao País conhecido, condecorado,respeitado nacional e internacionalmente, desrespeitado, vilipendiado e segregado em minha própria terra, numa perversa inversão de valores, posso dizer sem nenhuma restrição: Tenho Orgulho de ser Negro Brasileiro e, Vergonha de ser Sergipano.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

MARIOW - O TERREIRO DE B'A EMILIANA


de Severo D’Acelino/2008.


1-O Sol despontava no prado, iluminando a colina de um vermelhidão ofuscante, anunciando um bom tempo para o dia seguinte, as nuvens como caroços de algodão, se movimentavam lentamente, deixando os raios do Sol refletir por sobre suas formas, formando áureas surrealistas.

2-A mesma áurea estava sobre Ba’Emiliana que no centro da horta de paizinho, mastigando uma folha de louro, observava de olhos cerrados o Por do Sol, por traz da Colina do seu Caramanchão.

3- Contava com mais de 80 anos, mais sempre dizia que tinha a idade de sua neta, ninguém contestava porque buscava interpretações para as suas afirmativa, a neta que se referia, estava completando os votos de irmã missionária, com data marcada para seguir para Nairobi. Era chamada de Irmã Nisso, porque assim foi exigido por Ba, a matriarca da família e recomendada pelo Prior, seu grande amigo e influente no convento onde seu filho e sua neta foram aceitos.

4- Era filha do Pastor Abiolonardo, gêmeo de Aliandro, conhecido por Frei Abakossô, essa neta não tinha nada de especial no conceito da família, de tantas contradições e unidade férrea, de 9 filhos e 16 netos e 14 bisnetos, sendo que o mais velho já estava no quartel, por não querer ficar longe da -Ba’, os outros foram estudar na Bahia e ficar na Casa do Avô. Fora os agregados e filhos adotivos do Terreiro, era assim que ela chamava, pois a todos cabia a responsabilidade de cuidar de todos.

5-Esse bisneto, dizia que não queria ser doutor e seria General na Casa de Ba’, seu nome era complicado e foi escolhido pelo Orixá do Pai Augusto de Xangô o primeiro neto de Ba,’ numa noite de iniciação da sobrinha mais velha, quando completou sete anos: Ogumbaragy.

6-Isso perturbou a cabeça do Pai que foi passar um tempo com seu tio Abiolonardo o Pastor, na Paraíba, ajudando nas obras sociais do Templo e fazendo retiro espiritual para entender porque o seu primogênito tinha o nome Ogumbaragy, nome que ele temia e não entendia por que.

7-Nesta posição, foi interrompida pela presença de paizinho que calado e de cabeça baixa, imprimia sua presença cerimonioso a altiva, para preservar a segurança de Ba’ Emiliana. Era o único que tinha este privilégio presencial, nos transportes da matriarca, fora dele só Augusto de Xangô, seu filho mais novo. Ba’ despertou e pegou na mão de Paizinho de deu sua benção, não permitindo que ele se ajoelhasse.

8-Segui em frente, fazendo recomendações para os ritus da noite e dizendo que seria comandado pela sua irmã Daguimar e que as outras atendam as pessoas em tudo que for preciso que ela ia se concentrar na Casa de Oxum Maré, precisava de respostas de sua neta. Já havia estado nesta situação, quando abriu seu terreiro para abrigar pais de santos,ciganos, padres, pastores, políticos e comunistas, perseguidos da policia, do governo. Ali já passaram todo tipo de gente, só não dava guarida para ladrões e assassinos. Haveria de mais uma vez buscar soluções para os problemas que lhe afligia o espírito

9-Seguiram conversando, paizinho sempre atrás, de cabeça baixa, de vez em quando resmungava alguma coisa. Foi assim até o caramanchão de Ba, de lá segui para a casa dos Ancestrais, era assim que chamava a Casa de Egum, o Iylê Balé, para preparar as oferendas, pedir licença para a jornada da noite e de lá seguir para a Casa de Exu para providenciar as oferendas de preparação dos ritus, pois sabia que Daguimar no comando do ritual, não gostava de seguir as tradições e sempre fazia inovações, pois desde que ganharam as cadeiras, os ritus que ela comandava eram sempre sentados e parecia uma igreja de crente.

10-Como já havia colhido as folhas, estava despreocupado, pois sabia que a ajudante de Daguimar, gostava de exagerar nos sacudimentos e abusava das folhas, principalmente no dia dos Ancestrais. Ba’ costumava dizer que foi iniciada por um andarilho.
Um velho corrido das bandas da Bahia que se escondeu aqui e conhecendo sua Mãe e as dificuldades que tinha para lhe segurar se amigou com o velho e ele cuidou dela, fez sua cabeça, suas obrigações e depois de lhe ensinar algumas coisas, foi embora como o vento, mas foi nestas matas que seu Erê foi criado.
Tudo foi feito no tempo e foi aqui aonde veio parar, trazida pelo seu Orixá e, como seus filhos já estavam criados, por aqui foi ficando e conseguiu tudo aqui, pois só fazia suas obrigações e dos que lhes procurava, aqui neste local, num caramanchão de palha. O resto todos já sabe.

11-No caramanchão da cozinha todos os preparativos já estavam prontos, os cestos de pipocas já encaminhados para o caramanchão de Tempo, onde seriam executados os cerimoniais da noite, bem como o mungunzá, o arroz doce e o cuscuz, para depois dos trabalhos. Ali era preferencial dos que se encontravam no Terreno, só se alimentarem, depois dos ritus e muitos que chegavam, a mesma coisa, já era tradição.

12-Ba, logo que entrou no seu caramanchão, recebeu e atendeu a todos, abençoando a todos os seus filhos, que chegavam e de joelhos lhes estendiam as mãos, já que ela proibiu que se deitasse em Iká ou Dobalé, para lhes darem abenças.

13-Tranquilamente e silenciosamente após o cerimonial de abenças, foi se recolher caramanchão de Oxum Maré do qual só retornaria no amanhecer do dia seguinte, era uma noite de vigília onde a resposta as suas consultas, se pronunciariam no amanhecer. No portal dois ogans, montavam guarda, era a segurança da Ba, imposta por paizinho, só que ela não sabia, ou se fazia de desentendida, houve uma ocasião que ela deixou todos dois em transe durante três dias, por ter violado seu recolhimento.


14-Paizinho já estava ali, muito tempo, foi curado por Ba. Emiliana era um pequeno agricultor, proprietário de umas terras pela banda de Arauá e Santa Luzia do Ithany, pequeno criador de gados. Foi iniciado, após a cura, e foi ficando no terreiro, naquele tempo era na capital, ficava no barro vermelho e Ba, morava em outro local, nunca gostava de morar no terreiro. Tinha seus filhos e não queria mistura com coisa de Santo. Quando estava em casa, tava em casa, quando estava no Terreiro, estava no terreiro. Lá ficava sempre alguém tomando conta dos que estavam lá.

15-O Terreno foi, adquirido, diz Ba, pelos Orixás, pois foi ali, que seu Erê foi criado há muito tempo e que gostava sempre de mandar criar alguns Erê por lá. E nestas idas e vindas, recebeu de presente uns alqueires de terra por ali, com direito a passagem de uma perna de rio. O lugar era meio íngreme, cheio de vegetações e mata atlântica.


Com os presentes que paizinho ganhava por curar os bois, mais alguns alqueires foi anexados ao terreno e a mudança se deu lenta e silenciosa, com a plantação dos Axés e as edificações dos caramanchões, pois era assim que Ba, chamava as edificações. Para cada Orixá, um Caramanchão.

16-Foram construídos aos pouco, diversos caramanchões, principalmente para o povo que vinha fazer Retiro e obrigações. Foi construído um grande caramanchão para abrigar a escola, pois o local era longe da cidade e as crianças precisavam de um lugar para estudar, enquanto estivesse no Terreno, só assim não perderiam aula quando não fosse para a escola na capital.

17-Das viagens que seu filho fazia para Salvador, para estudar no Convento lá pras bandas de água de menino, sempre trazia nos finais de semana, dois a três bocapius de plantas, as ervas frescas que comprava no mercado e ou era mandado para sua mãe, pelas suas amigas do mercado, pois muitas delas já haviam feito obrigações com Ba.

18- Paizinho era o responsável pela construção e conservação do Jardim de Ossain que fez perto do caramanchão dos bichos, onde se criava aves, cabras, bodes, carneiros, porcos, cágados enfim era a barca de Noé, como o Pastor gostava de dizer. Ate o pombal era ali. Pois quase toda semana alguém levava um animal ou ave presente para Ba, tinha até pavão, ela só não queria era pássaros, pois dizia que eles eram melhor soltos para alegrar a vida da gente.

19- Enfim era um zoológico místico, o caramanchão dos animais. E paizinho gostava de cuidar e vê a gurizada trabalhando na limpeza e alimentação dos bichos, tirando leite das cabras e vaca. No Jardim ensinava a todas as crianças e adolescentes, a importância das folhas e sua s funções. Tinham alguns que se destacavam outros estavam mais interessados na Horta, com suas variedades de legumes e mais rápido na utilização dos seus produtos. Os tomates e cenouras eram consumidos ali mesmo, pela gurizada que estava sempre dispostas a catar capim e colocar estrumes nas plantações.

20- Além das brincadeiras com as borboletas, que infestavam a área das flores e disputavam com os Beija-flores o aroma que diluía no ar. Ali também era destacado os canteiros das flores: Sorrisos, Adálias, rosas, Antúrios, Jasmim, Brincos de princesas, Margaridas e uma grande variedade que o povo trazia quando visitava o Terreiro ou mandavam encomendar mudas de outros locais. Era muito florido e festivo o ambiente formado pela horta, jardim de Ossain de Jardim das Rosas, como era chamado pelas crianças e a Barca de Noe´.


21-No terreno, além das diversas árvores nativas, da mata atlântica, tinha diversas fruteiras que foram plantadas e as que já existiram como as mangabeiras e coqueiros. Foram plantadas mangueiras, jaqueiras, pé de fruta pão, bananeiras, laranjeiras, limoeiros, romã, carambola, manjelão, tamarindeiros, Abacateiros, carambolas, sapoti, uma imensa variedade de frutas. O ano todo havia fruta no Terreno o que favorecia o exercício mecenato dos meninos que montaram um negocio e mantiam uma freguesia cativa, vendendo frutas, verduras, flores, ovos e galinhas. O produto deste negócio coletivo era depositado no caixa do terreiro que era liderado por Tia Emerentina e um grupo de auxiliares.

22-Ela era a Tesoureira do Terreno a quem cabia a decisão dos gastos e registrava todas as despesas e o que entrava principalmente os donativos, as contribuições, doações e o que era recebido pelos serviços espirituais. Todos mantinham Tia Emerentina a par de suas receitas e as entregava, uma boa parte, principalmente a cigana Aaron que estava sempre com visitas. A novidade foi colocada pelo Frei Obakossô que levou um irmão para orientar Tia Emerentina, antes as contribuições era dada a Ba’ que não se sentia nada confortável e tinha dificuldades de controlar as despezas.


23- Perto da Lagoa e Nanã, tinha um campo que os meninos brincavam aos domingos, mas não podiam entrar n’água. Era proibido. Como também era proibido o banho no Riacho e na Fonte, pois eles eram dedicados as Iyabás e não eram para serem profanados, só era permitido o banho no riacho, acompanhado das Tias, principalmente quando iam lavar roupas.

24-O Terreno era composto de diversos caramanchões, construção de duas águas, no formato de barracões, dispostos estrategicamente em forma de quadrado de forma a ficar uma praça no meio e dar visão a toda área. Compunha de Caramanchões dos Orixás, do pessoal e da administração, escola e demais habitações necessárias. Do alto parecia uma aldeia de Índio ou um quilombo. Era impossível destacar o caramanchão principal, pois todos tinham as mesmas características e suas dependências internas eram os destaques. Eles tinham um corredor que dividia os cômodos de um lado e do outro e cada cômodo tinha uma janela, porta e três banheiros.

25-Os Caramanchões dos Orixás tinham seus respectivos Roncós e suas áreas de cerimoniais. Só diferençava dos Caramanchões da Cozinha, do pessoal e da Cozinha dos Orixás, o do pessoal tinha enormes mesas que mais parecia um quartel e eram grandes, ali todos faziam suas refeições. O dos Orixás era menor e só tinha uma mesa em forma de te, onde colocavam as obrigações. Perto da Cozinha tinha uma bomba para puxar água, não havia luz elétrica no terreno o local era iluminado por lampiões ,lanternas e candeeiros.Ba ganhou uma ruma de lampiões a carbureto que só eram usados em dias de festas e no caramanchão da escola, que tinha três.

26-As crianças dormiam, nos diversos caramanchões, com suas mães, tias, tios, e avos. Ba, não permitia que as crianças ficassem sem companhia, por isso quando chegava uma nova criança, ela imediatamente lhe dava uma tia, um tio ou uma Avó, mandando que um cuidasse do outro e aprendessem o que não sabiam. A Matriarca era sábia e respeitava as crianças e os velhos porque ali estava a sabedoria da Nação.

27-As crianças do Terreiro são todas especiais, acochadas das suas Tias e Avós, disciplinadas, carinhosas, cativantes e insubmissas. Todas recebem presente dos visitantes e freqüentadores, cuidam de suas Tias e Avós com quem dividem as emoções, aprendendo pequenos segredos, ouvindo histórias e estórias, convivendo com os ritus, signos e Orixás, Pretos Velhos, Ancestrais, Vodus, Inkices, Caboclos e Ciganos, numa diversidade e religião aberta as reinterpretações dos diversos credos e religiões ali apresentadas.


28-Sabem como se portar, através da cultura imitativa e reprodutiva, nunca olham direto nos olhos dos mais velhos. São educadas para obedecer e nunca ser submissas ou se humilhar. Ali ninguém apanha e os castigos são auto aplicáveis, decidido por eles mesmo, numa ação do livre arbítrio. As crianças eram muito pajeadas, todos que iam para o Terreno, lhes ensinavam sempre alguma coisa, o Caramanchão da escola era sempre uma festa, principalmente quando o pessoal chegava para fazer retiro espiritual ou alguma obrigação de final de semana.

29-Paizinho administrador do Terreno (ninguém fazia nada sem o consultar, até Ba),além de Responsável pela casa de Egum e pelo Jardim de Ossain, se tornou grande rezador e sempre procurado párea curar os bois dos criadores da região, e nunca atravessou qualquer cancelas de fazendas, sua reza era feita ali mesmo, olhando os retrato dos bois que eram as únicas coisas que exigia, quando o pessoal chegava na fazenda os bichos dos bois já haviam desaparecido, não havia nem marca.

30- Isso tem lhe rendido, muitos mimos e ele revertem para o Caramanchão. Viúvo e com três filhos que não lhes deram netos, vivem de fazer companhia a Ba, a quem respeita como uma mãe, ajudando ao pai a zelar pelo Terreno e cuidar do povo que vai para lá em finais de semanas para fazer retiros, dois dele são policiais e o outro é marchante, parecem trigêmeos, ninguém que não seja do Terreno, percebe a diferencia.

31-Paizinho é o Ojé do Terreiro, foi iniciado ali mesmo, pelo Alapinin de Itaparica, a pedido de Ba. Vive no caramanchão da Colina com seus filhos, onde pode avistar toda a extensão do Terreiro. Não tem casa na Capital como Ba, mora definitivamente no Terreno e tinha seu caramanchão na colina, onde podia avistar tudo. Foi idéia de Ba.

32-Ba não se casou para não viver submissa a homens raparigueiros, dizia sempre em suas conversas animadas, seus filhos foram gerados pelo prazer, depois se tornava irmã dos seus amantes e não tinha mais nada com eles. Dizia ela que era quizila, sua preocupação era com os Orixás. Queria estar sempre a disposição e preparada para servir aos seus Orixás e era por isso que as coisas davam certo. Era o seu respeito e disciplina. Todos seus filhos conheciam seus pais e seus Pais reconheciam seus filhos, mais nenhum deles foi dependente dos pais.




33-O terreno era uma Nação independente, os Caramanchões estavam sempre cheios e os Exus estavam sempre trazendo gentes para lá. Tinha muitos agregados e dezenas de filhos e netos adotivos e crianças que se criava ali, muita delas de mulheres da vida e outras até de outros Estados, trazidas ou mandadas pelo Frei. E muita delas já encaminhadas inclusive em outros Estados, como a Bahia e Rio de Janeiro, levada por seus amigos.

34-O Terreiro de Ba se transformou com o tempo, em uma Nação de muitas vozes, línguas e ritmos. Uma Cidade onde os Vodus, Caboclos, inkices, Pretos Velhos, Orixás e demais Entidades coexistiam pacificamente, fortalecendo o Axé, dividindo o espaço e multiplicando saberes. Os ritus e cerimoniais eram conduzidos por diversas cabeças: Emerentina, Dagmá, Otacílio, Paizinho, Safira, Damiana, Cigana Aaron e seus diversos assistentes. Todos eles iniciados no Terreiro ou agregados a eles. Diziam que Ba acolhiam a todos e a todos dividia seus saberes para fortalecer o Axé da Casa, sem precisar ficar preocupada com a continuidade.

35- Ali todos sabiam o que os outros estavam fazendo, para mandar era preciso aprender a fazer, era isso que Ba, sempre falava e dizia que o conhecimento era o senhor dos acontecimentos. Zequinha de apenas 12 anos, já sabia conduzir ritus para o Tempo e por isso, Ba deixava que ele fosse o responsável pela Óssea de Tempo e de Irôko, no Bambuzal e no Pé de Baobá. Sua confirmação foi feita com sete anos com o Orixá Oxossi e Ogum de Bô.

36-Apareceu no Terreiro, um pé de Baobá, já grande e viçoso, antes aos olhos espantados do pessoal, Ba, disse que era uma revelação, que todo mundo via a árvore, mas ela estava ali e ninguém olhava, estavam vedados e tinham que abrir os olhos. Mandou preparar os cerimoniais para oferecer um Ebó para Irôko ali nos pés do Baobá e a Tempo e Iansã Balé, ali no Bambuzal o que foi feito durante sete dias se comemorou o Axé.
A noticia se espalhou e muitos vieram conhecer o Baobá que apareceu no Terreno, estava todos esses anos, encapuzado, muitos pensavam que era um pé de fruta pão e não ligavam, pois ele estava o tempo todo protegido por arbustos e mata nativa, só agora os olhos de Ba, revelou o Orixá que estava o tempo todo no Terreno.

37-Um automóvel estava chegando e o chofer parou e buzinou, pedindo passagem, era os meninos brincando com a carroça e o cavalo encilhou não respondendo i aos comandos. Manobraram puxando pelos arreios e saindo da estrada, dando passagem para o automóvel. A carroça estava transportando as cadeiras do Caramanchão da escola para levar para o caramanchão do Velho, como era chamado Obaluaiyê , os meninos gostavam de animais e no terreno tinha diversos cavalos e burros e jumentos e bois que eram empregado nos serviços. Tinha três carroças e um carro de boi.


38-Vez por outra, ficavam de espreitas vendo os movimentos dos automóveis, caminhões e marinetes que passavam e a poeira os encobriam o que era motivo de algazarras, principalmente quando um destes veículos, paravam em frente ao Terreno e ou entravam, como agora. O automóvel que chegou, trouxe pessoas para o ritual da noite e obrigações, seriam recolhidos após o ritual, tratava-se de um casal da sociedade que estava em tratamento.

39-A família chegou, desceu do automóvel e foi recepcionada por uma senhora com um menino, que lhes encaminharam para o Caramanchão das águas, para tomarem seus banhos e se trocarem, o pessoal já estava se reunindo no local e muitos já estavam chegando e viriam para a casa das águas.

40-Vô Francisca e a Cigana Aaron, neste dia atenderam a muita gente, que vieram passar o ramo e tirar a sorte, eram muito procuradas e suas famas de rezadeira e vidente da quiromancia era grande e nesta noite todos ficaram para o cerimonial, só iriam para casa no outro dia, após o banho na casa das águas( era um caramanchão com uma fonte no meio, o seu minadouro era que abastecia os banhistas no ritual e a fonte era o aproveitamento desta vazão), mulher menstruada não podia entrar( teve uma ocasião que o minadouro secou) a transgressão poderá afetar toda a comunidade. Ninguém podia violar as ordens. O local era dedicado a Oxum e Oxalá, era de lá que se recolhia ás águas dos axés e começava o cerimonial das águas de Oxalá, todo inicio de ano.

41-Ba, recolhida no caramanchão de Oxum Maré, ninguém se atrevia importunar a sua concentração (já houve ocasião de ficar até uma semana, concentrada, era um transe que aprendeu com uns padres missionários, foi por isso que permitiu que sua Ianassô fosse pro convento, ela dizia que no convento também tinha Orixá, e tanto lá como cá a coisa era a mesma, só não tinha matança dos bichos, mas de resto era tudo igual, tudo no seu lugar, onde o lugar for tudo), o caramanchão já estava iluminado e todos em suas cadeiras, esperando o inicio do cerimonial, tudo no mais absoluto silencio, só os ranger de cadeiras se ouviam.

42-Os tambores rufaram, anunciando a entrada da sacerdotisa e seu séqüito. Dagmá surge entre um grupo de crianças e adolescentes, todos aparamentados, trajando roupas brancas, conduzindo folhas, incensadores, agridais contendo ebós e diversos cestos com pipocas. Uma voz se destacou cantando Agô: Agolanaê didê ma mago. Todos levantaram respondendo ao cântico em uníssono, de repente era como se a aurora surgisse, explodindo fachos de luzes, todos ficaram iluminados com áureas cristalinas e o eco de suas vozes retumbavam o local.

43-Ela com um torço na cabeça, cobrindo os fios brancos dos cabelos encaracolados, ergueu as mãos e disse para a assembléia numa língua diferente, saudações aos Ancestrais, Orixás e Vodus. Pediu que todos concentrasse suas orações, pedidos , agradecimentos e sentimentos aos quatro cantos, com as licenças dos povos de lá, dos mais velhos e dos Orixás e oferecesse o ritual de hoje para a realização de benecifios aos necessitados, aos que sofrem, aos que já se foram, a paz de todos nós e proteção dos que aqui se encontram. Pegou o incensador e incensou as crianças e entregou a Zequinha, que lhe incensou e saiu a incensar os presentes, com mais dois sobre o cântico que era respondido por todos. Depois Zequinha pegou a Pemba e cruzou os quatro cantos do caramanchão terminando no centro soprando e batendo as mãos.

44- O cerimonial continuou com cânticos acompanhados por palmas e pelos tambores e cabaças, que seguiam o shirê, onde a sacerdotisa, saudando o Orixá, falava sobre suas qualidades, funções e pedia que ele intercedesse pelos que necessitavam de suas proteções, especificando estes e aqueles fatos e acontecimentos.
Oxum Maré foi saudado por todos que levantaram e foram tocar a água posta no chão em circulo, os mais velhos, recebiam dos mais novos o toque simbólico sem ter que sair dos seus lugares, assim também, os abençoavam a cada solicitação de benção.
Assim foi o cerimonial ao Orixá Ossain, onde as folhas foram jogadas e todos foram buscar ou pegaram e colocaram na orelha como símbolo de posse e as crianças distribuíram galhos a todos que iniciaram os sacudimentos coletivos, onde os descarregos eram executados e diversos transes aconteceram neste ato.

45-Imediatamente o Orixá da noite foi invocado os tambores ressoavam com uma cadencia animadora, os cânticos compassados pareciam um recital e por mais de meia hora se cantou ao Orixá, pedindo súplicas, benção, saúde, proteção na família etc. Até que as pipocas foram atiradas por todo pessoal e iniciado a distribuição pelas crianças, que passavam a todos, pipoca, flores e folhas, as pessoas em transe eram acompanhadas pelas demais em suas danças sagradas, em coreografias pesadas e lentas.

46-O cerimonial continuou, seguindo o mesmo padrão de invocação, suplicas e cântico, com o povo ora sentado, ora em pé ora dançando. O Orixá invocado por último foi Oxalá, o Senhor da Paz e da Misericórdia, diversos transe ocorreram e em cortejo foi levado para o caramanchão de Oxalá debaixo de um pálio e de lá retornando para o caramanchão de onde tinham saído para levar o Orixá e foi celebrado o encerramento, onde após os cumprimentos, choros e abraços, o pessoal se dirigiu para o caramanchão da cozinha para a refeição onde todos poderam completar suas conversas e irem para seus alojamentos. Nesta noite o caramanchão dos visitantes foi muito movimentado.

47-O domingo que passou, as crianças tiveram pela manhã a missa celebrada pelo Frei, ele tinha vindo da Bahia e aproveitou para reunir o rebanho do Terreiro e vê como estavam seus corações que para ele eram rios de amores. A celebração foi no Caramanchão da Escola. Teve confissão individual e coletiva, os meninos gostavam da confissão coletiva porque poderiam ficar com seus pecados sem o Frei saber. As Tias e os Tios se fizeram presente em todos os atos, só aqueles que se ocuparam não participaram. Neste domingo o coro foi muito bom, afinado, alegres e não erraram nada.

48- O David, coroinha do Frei, dividiu suas tarefas com mais três irmãos e tudo foi coroado de êxito em homenagem ao amigo irmão. O Frei celebrou a missa em memória da Virgem da Conceição e da memória da mãe de Ba’ que era afilhada de Nossa Senhora da Conceição. Na pregação o Frei exortou a todos a caridade e lembrou São Francisco, a sua dedicação a Deus e as natureza, aos animais e seus desprendimento as coisas materiais. O Irmão Sol foi saudado com a Oração de São Francisco.

49-Depois da liturgia, Frei Abakossô, foi para o caramanchão de Ba’, andou pelo terreno com paizinho e esperou o Pastor para o almoço, pois a tarde era dedicada ao culto do Pastor Abiolonardo que chegava com uma comitiva e seu irmão Augusto que já fazia tempo lhe acompanhava, ele não reclamava pois sabia que tinha as mãos de Ba’ que lhe reclamava dos lugares que ele tinha que ir para arrebanhar gente para a igreja, a mesma coisa era o seu casamento. Foi arranjado por Ba’, quando visitou sua igreja na Paraíba e aproveitou para conhecer o ritual da jurema e foi lá que encomendou a noiva do filho.

50-Quando o Pastor chegou, foi uma animação geral, o Frei ficou ao lado dele, se dizendo com ciúme do filho pródigo, as Tias se agrupavam em torno do Pastor e parecia que não havia mais ninguém ali, Ba’ abraçou o filho e pegou nas mãos de Augusto e foi sentar nas sombras do pinheiro, o peste central da praça do terreiro, junto com ela seguiu os membros da comitiva. Enquanto isso o Pastor tinha que responder a todas as indagações das Tias e dos meninos que o tinha como herói.

51- A conversa de Ba’ com o filho mais novo foi em torno do seu primogênito, o Pastor. Com a intervenção de paizinho, foram todos para a casa das águas tomarem banho ou se lavar e de lá foram para o caramanchão da cozinha. O almoço foi festivo os meninos não paravam de chamar a atenção dos visitantes. Almoçaram e foram para o caramanchão da Escola, preparar o local do culto com mais espaços para os que não compareceram a missa. A Cadeira de Ba’, foi colocada com as demais cadeiras dos graduados e a do Frei era junto a dela, assim todos estavam contemplados.

52-Às três horas, todos já descansados do almoço, começaram a se dirigir para o local do culto. Era uma festa, queriam saber o que o Pastor iria falar de novidades. Todos nos seus lugares. Augusto sentado com Ba’ e Frei Obakossô, não parava de admirar as crianças, esperava a qualquer momento o seu filho Ogumbaragy que sabia estar de serviço no quartel, mas que não era novidade ele dar um jeito e aparecer no Terreno com alguns amigos, no carro do quartel. O Coro das crianças começou a cantar o Aleluia e Gloria, sendo acompanhado por todos. O Pastor apareceu trajado com seu terno e os fios de contas do Orixá, era assim que eles referendavam os Ancestrais, o Frei nunca tirava seus fios de contas, também nunca exponha.

53-O Culto começou exortando a família, a leitura da Bíblia foi a mesma de Frei Obakossô, o Gloria a Deus teve um significado universal dos deuses de todos os povos de todas as religiões, de todos os cultos. A Bíblia foi referendada como a vitória da humanidade, o memorial da salvação, da família espalhada por todo o reino de Deus, onde seus Profetas se revelaram pela boca do velho, das mulheres e das crianças em comunhão com o evangelho. Falou de Moises, Maomé, Jesus e João Evangelista de sua importância para a humanidade e ilustrou o seu discurso com a história de José do Egito, para acentuar a unidade familiar. A Família não pode ser o espelho da Torre de Babel é a unidade que se multiplica em cada irmão que surge e nos completa, finalizou.

54-Ba’ em seu canto, chorava copiosamente o que era acompanhada por outras mulheres, e, em meio do tumulto da saudação, as atenções se voltaram para um grupo de militares que estavam no canto da porte. Era Ogumbaragy e seus companheiros. Tinha um oficial e uma mulher que lhe acompanhava. Todos abriram passagem para que os visitantes chegassem até B’a e o Pastor. Augusto levantou e abraçando seu filho cumprimentava os acompanhantes. O Pastor e o Frei lhes deram um abraço e Ba’, sentada recebia os cumprimentos do oficial, que era apresentado a todos por Ogumbaragy.

55-Paizinho levou os visitantes a casa das águas, e lá, depois de purificados, com a ingestão da água, e passado pelo rosto, voltaram ao grupo que se dividia para estarem com seus ilustres visitantes. No final da noite Ogumbaragy retornou ao quartel com os três soldados, deixando o oficial e a mulher no Terreiro, eles teriam uma consulta e um trabalho para fazer, tudo tinha sido acertado com Ba’ e Emerentina tinha sido convocada para atender o casal, logo nas primeiras horas da manhã. Foram para o caramanchão dos visitantes dormirem para o maionga do dia seguinte. Ba’ se recolheu com seus filhos e o Terreiro ficou sem movimentos.

56-No dia seguinte, a vida voltou ao normal, sem nenhum aparate ou curiosidade, parecia que nada havia acontecido, tanto o Frei quanto o Pastor se acomodaram no regime do Terreiro, e foram as atividades para a normalidade , pois enquanto estiveram ali o regime é da casa. B’a coordenava as ações e determinava quem as executariam. Emerentina já estava tratando do casal.

Dagmá prosseguia nos rituais dos que estavam no Ronkô, a madrugada foi movimentada com os Boris que estavam marcados e paizinho, rondava a propriedade com seus dois filhos, antes que o mais velho, o policial, fosse para o quartel, pois iria entrar de serviço e sua licença expiava as 11 horas, tinha que pegar a marinete ou o caminhão que passava ali por perto.

As obrigações tomaram seus cursos, diversas iniciações e diversos Eres eram criados no meio da mata do terreno e os rituais prosseguiram, com a ausência do Pastor e do Frei, que tiveram de retornar a suas vidas eclesiais e atender ao seus rebanhos. Augusto ficou no terreno para os cerimoniais.

57-As sestas feiras, dia tradicional de abstinências, todos fazem o jejum que vai do nascer do Sol e termina no alvorecer do sábado. Não se acende fogo e as atividades cerimoniais são suspensas. Não há sacrifícios. É dia de Óssea, onde todos em retiro fazem suas obrigações e limpeza dos instrumentos litúrgicos e dos locais sagrados. O silencio impera a comunicação é feita falando baixo.

58-As pessoas que vão fazer retiro no terreno, costumam chegar no começo da noite e após passar pela casa das águas, para o ritu de purificação, encaminham-se para o caramanchão dos visitantes e só no dia seguinte se integram a vida espiritual do terreiro. As crianças se esmeravam nas faxinas, estavam em toda parte, paizinho costumava dizer que ali não se perdia nada, pois as crianças sabiam de tudo, conheciam todos os segredos, todas as rezas, ritus, danças e cerimoniais. Ninguém conseguia se esconder ou esconder nada das crianças, elas sabiam inclusive quem comia escondido, seja frutas, legumes ou pão. Elas sabiam de tudo.

59-Passado algum tempo, muito dos meninos se tornaram homens, as meninas, desabrocharam em moças, uns estudando na Bahia outros nos labuta do Terreno, e outros nos trabalhando mais variados serviços, arranjado pelos compadres, afilhados, filhos e amigos do terreno. A casa da capital, administrada por eles mesmos, era o quartel onde todos serviam e se aquartelava quando estava na capital.

60-As meninas gostavam sempre, de ficarem no quarto de Ba’ ela não gostava, mais não reclamava, tinha oito quartos e um quintal enorme, a casa tinha muito cômodos, principalmente porque ao longo do tempo, também ali foram acrescido cômodos.

Outras crianças foram introduzidas no terreno e adotadas pelos adolescentes que continuavam cuidando de suas Tias e Avós e muitas crianças eram deixadas de madrugada na soleira da casa, fazendo o maior alvoroço. Eram recolhidas e amadas. Naquela época era comum esse comportamento e a legalização não era fiscalizada, algumas das crianças já traziam seus documentos de registro entre as roupas, outra eram um simples bilhete e outras, não traziam nada que o identificasse.



61- Todos estavam ocupados na preparação do caramanchão de Santo Antonio, Ba’ havia sugerido a Augusto, o seu desejo de ter um caramanchão dedicado as Novenas de Santo Antonio e durante o ano, seria utilizado para as missas e os cultos, era um presente ao Frei e a Pastor. Neste ano, os serviços começaram com a participação de todas as crianças, filhos e agregados do Terreiro, e ficou pronto no pé da colina, perto do caramanchão de paizinho, e tinha quatro entrada, para cada lado, uma porta, era quatro fachada o altar e o púlpito ficaram nas quinas do caramanchão que logo ficou pronta para o inicio do novenário.

62-Essas atividades não impediam as ações litúrgicas do Terreiro, que continuava normalmente. Mandaram informar ao Frei e ao Pastor a construção do caramanchão de Santo Antonio. Estava no mês e iniciaram a novena, com Emerentina e as meninas, no comando e dividia a responsabilidade da condução, destacando os grupos e, todas ás noites era a novena conduzida por um grupo, até o grande dia, com a celebração por Frei Obakossô que veio de Feira de Santana com diversos seminaristas. Teve muitos fogos, muitas flores e muita alegria.

Ba estava contente e foi nesta noite que um Boi, começou a urrar e a desembestar em correria pelo terreno, não quebrava nada, mas cavoucava a terra e urrava e corria como um desesperado.

63-O povo ficou apavorado, mas Ba’ mandou informar que não se preocupasse era a passagem de Xangô e que tudo estava bem. Durante três dias e três dias e três noites o boi malhado urrava e cavoucava, muitas das vezes parando em frente a alguns caramanchões dos Orixás.

64- Ba’ ficou apreensiva, já sabia do que se tratava, durante a noite que passou no Caramanchão de Oxum Maré, para obter noticias de sua neta, teve revelações terríveis onde a Ianassô era vítima de contenda tribal, sendo estraçalhada por um grupo que invadiram a casa das missionárias e levaram para o prado onde começaram a violenta-las e degolar. Ianassô, com uma lança investiu contra os agressores, defendendo suas irmãs, mas foi vencida e submetida a torturas e violações.

65-Com o facão de seus agressores, decapitou a todos, mas não pode salvar a aldeia e nem sua irmãs. Ba’ depois do transe invocou a troca de cabeça, pela segurança de sua neta e das missionárias. A reação de sua neta, foi a incorporação de Ba’ em transe na percepção de Iyansã e Ogum, que decapitou os agressores. ORI MARU.

Quebrou as quartinhas do Orixá e fez um circulo interrompido com as águas ali contidas, quebrando em seguida seu recipiente, de modo a não haver reversão. Estava interrompida a visão e compactuada a troca de cabeça.

66- Amanheceu e Ba’ se retirou do caramanchão de Oxum Maré, sendo seguida pelos filhos de paizinho, seus guardas de honra. Nada que aconteceu ali não se falava não se ouvia não se lembrava. Sete dias depois
Ba’ recebe noticias da Neta, falando dos problemas nas aldeias e as perseguições as Missionárias, mas que elas estavam sendo guardadas por um grupo destacado da aldeia e estava tudo bem. Foi a resposta que Ba’ aguardava e a confirmação do pacto.

67- A troca de Cabeça foi Feita e ela tinha agora caminhos de chegada para a partida. O urro do Boi veio lhe trazer o recado do Orixá. Ogumbaragy entrou em transe e correu o espaço do terreno emitindo forte gritos, o ilá de Ogum era de guerra, rugidos fortes que cobriam os do Boi. Maristrêla de Oyia se movimentava como se estivesse correndo, mais ninguém via ou ouvia suas pisadas ou os movimentos de suas pernas. Paizinho correu na Casda dos Ancestrais e de lá no Caramanchão de Oxum Maré, houve uma correria no Caramanchão de Xangô, mas ninguém viu ou entendeu nada.

68-De repente o silencio. O Boi parou de urrar e foi para o prado, Ogumbaragy e Mariestrela saíram do transe e um silvo rasgou o céu do terreiro, era a coruja rasga mortalha. Todos caíram de joelhos no chão a moda muçulmana a gritar por malembe.

69-O Frei Obakossô abandonou o grupo seguiu rumo ao sol, só retornaria no outro dia com o alvorecer e celebraria a missa matinal e Paizinho com o Ixã na mão conduziria o Babá Egum na comunidade, onde seguido pelas crianças passaria por toda a gleba do Terreno. Ba’ acompanhada por diversas irmãs as mais velhas, se retirou para seu Caramanchão para discutir os preparativos do sacrifício do Boi a Xangô e tomar as providências antes de revelar o que todos queriam saber, mesmo tendo conhecimento de que alguém iria kufar(morrer), mas não queria acreditar pois alguma coisa tinha de ser feita.

70-Ficou decidido que fariam o ritual da cabeça no Baobá e só uma pessoas estava capacitada para tal cerimônia. Paizinho seria consultado. Todas as crianças e adolescentes de sete a 19 anos, estavam em transe hipnótico que a Cigana Aaron colocou, junto com as Tias, era perigoso a percepção dos atos que ocorreram, até os seminaristas estavam em transe. O sino tocou três vezes seguido, a noite caiu e o silencio reinou.

71- Amanheceu e o terreno despertou com o repique do sino, avisando a missa matinal, o clima era de suspensão, uma interrogação não revelada, estava no ar. Os seminaristas ajudaram ao Frei se aparamentar e a celebração foram iniciados, nenhuma criança apareceu, as tias e as avós estavam todas e com elas os demais. Terminada a liturgia Ba’ saiu com o Frei que logo após se retirou no jipe com os seminaristas, de volta a Feira de Santana.

72- As crianças já fora do transe corriam pelo terreiro e depois do café descobriram Paizinho com Babá Egum e foram acompanhar em pleno alvoroço o que dificultava o trabalho de Paizinho para controlar o Egum. Terminado a rumaria de Baba Egum, e seu retorno ao Baluê, Paizinho já sabia do que se tratava, mas como Ba’ já tinha decidido, não revelou nada as Tias. Junto com elas programou o sacrifício do Boi a Xangô e ficou acertado para daí a sete dias, pois o boi estava cansado e o sangue não estava calmo. Mandou separar os bodes e galos para o cerimonial e avisou a Ogumbaragy e Augusto do ritual e que ficariam recolhidos no ronkô, para até o dia do sacrifício, imediatamente os dois se recolheram na casa das águas e depois foram levados em transe para o ronkô.

572-O Frei Obakossô estava empenhado por seus superiores de organizar a Santa Missão, que foi encomendada pelos Padres de Sergipe e esperava a comparecencia de toda irmandade do Terreiro e antes de ir, falou com sua mãe da possibilidade de participação do pessoal ao qual ela prontamente atendeu e disse que seria muito bom para o povo do terreiro e para o tempo uma Santa Missão, pois as coisas estavam ficando de cabeça para baixo e era preciso a intervenção divina através de muitas rezas.

73-Naquela semana um mundo de gente se concentrou na Praça pública a rezar, a fazer pedidos e em romarias seguir dia e noite a liturgia da Santa Missão, onde Padres, Freiras, e diversos Freis muito dos quais já anciões, se misturavam com o povo em ritus de oração. Foi uma semana durante dias e noites. Ba’ participou durante três dias durante os quais, passaram na casa do barro vermelho com seus inúmeros filhos. Retornou ao Terreiro para o cerimonial de Xangô que já estava marcado, chegou lá numa martinete fretada, completamente cheia.

74- Na sua ausência o comando ficou com Mãe Severa, que resolveu dar um Bori aos dois que se encontravam no ronkô como preparação para o cerimonial de Xangô. Um caramanchão foi improvisado pelos filhos de Paizinho para a cerimônia e na madrugada da quarta feira, uma multidão se reunia no entorno do caramanchão para o ato, todos aparamentado aguardavam a chagada dos dois que estavam no recolhimento. Paizinho iniciou os cânticos de fundamentos e foi trazido o Boi, acompanhado de Augusto e seu filho Ogumbaragy de dando um passeio com o Boi, pelos quatro cantos cerimoniais, parou em frente a Ba’ que no centro do caramanchão esperava pelo cortejo.

75-Levantou as mãos e falando uma língua estranha, invocou a Exu que levasse até Xangô o pequeno sacrifício em sua homenagem para dias de Paz, Saúde, Fartura, Justiça e Felicidade e falando a língua dos presente, invocou ao Orixá proteção a sua neta nas terras dos seus ancestrais. Pegou uma touceira de galhos de diversas folhas e fez movimentos para o ar e ordenou o inicio do sacrifício.

76-Augusto pegou a faca e passou para Ogumbaragy, que se curvou e de cabeça baixa a levantou com as duas mãos saudando o Orixá e em seguida, falou se virando para o norte, sul, leste e oeste, pedindo licença ao povo de lá e em seguida pediu licença aos mais velhos e fez ika (se deitou) pedindo a abenção a Ba’, que lhe abençoou e Augusto pegou a grande bacia de alumino posicionando na frente do Boi que acompanhado pelos homens mais experientes, tinha seus pés amarrado com uma corda.

77- Ba’ passou os galhos na bacia de água que era segurada pelo menino, passou quatro vezes por sobre o boi que deu um berro e encolhendo as patas dianteira, ajoelhou, pegou as folhas que lhe era estendida por B’a e entes da primeira mastigada Ogumbaragy bateu com a faca no chão e na cabeça do boi e com um golpe perfeito, sangrou-lhe impedindo o próximo berro ou mastigada. O Sangue em profusão atingindo em cheio o corpo inteiro de Ba’ da cabeça aos pés, Augusto teve muita dificuldade para aparar o sangue na bacia, pois ele invés de descer, dava jatos para frente, diversas pessoas caíram em transe, mas nenhum Xangô respondeu, nem mesmo o de Ba’.

78- O Orixá aceitou a oferenda mas não veio receber, todas os cerimoniais divinatórios foram feitos para todos os animais sacrificados: Bodes e Galos, Alubassa, Buzius, Oubí, Ourobô e os Ixés dos animais e aves. O Pepeié quando sacrificados mostrou possuir dois corações, o que levou a um outro sacrifício, dirigido a Oxalá, pedindo misericórdia. No corte de Oxalá a Balé de Ba’ respondeu e a deixou em transe durante todo o festejo que durou 21 dias.

79-Foi uma festança sem igual no Terreno, mas não havia alegria, os barcos que estavam no ronkô foram todos preparados para o Orunkô, saíram diversos barcos. Era uma romaria sem igual, muita gente chegava de outros Estados, o Pastor e o Frei permaneceram os tempos todo em preparativos do ritual se revezando com Paizinho, já que as Tias não tinham tanta resistência para permanecer em vigília.

80- Os tambores roncavam a cada instante saudando os Orixás que sistematicamente retornavam, até que a Balé de Ba’ no final da cerimônia suspendeu, causando espanto a todos, inclusive a diversos médicos da casa, que custavam a acreditar. Ba’ estava lúcida e em boa saúde, sem mostrar qualquer desconforto. E durante o final da festa dançou a noite toda.

81- Terminado o cerimonial, tudo voltou ao normal, três dias depois o pessoal já se preparava para deixar o Terreno, retornando a suas atividades. O Terreiro ficou calmo, recebendo as pessoas que iam buscar assistência espiritual e uma palavra de conforto. Ba passeava com Paizinho e uma tropa de adolescentes e crianças que aproveitavam do passeio para traquinarem subindo e nas árvores frutíferas para colher o que viam, e oferecer a Ba’, sabendo de sua recusa e aproveitavam para comelas.

82- Três meses se passaram, Nassô mandou diversas cartas e telegramas para Ba’, Pastores da Assembléia de Deus, que tinham missionários na África, faziam visitas a Ba’ tranqüilizando sobre as funções e os serviços de evangelização e social do grupo. Falando das Aldeias, dos animais, das savanas e dizendo que houve uma transferência de um grupo para Ukuamba e que Nassô estava neste grupo. Mesmo querendo ficar foi enviada pára outra aldeia, pois a comissão de saúde precisava dela que como excelente enfermeira, conhecia as ervas e a língua dos nativos. Ba’ ficou mais animada e relaxou.

83- O Pastor Abiolonardo mantinha constantemente contato com o pessoal da direção da Assembléia de Deus para saber das novidades e como andava as atividades de sua filha e as manifestações nas aldeias, alguma coisa falava para a mãe, outras não, mas era difícil uma conversa com ela, pois antes de chegar já estava de partida, os assuntos ela já sabia de todos. Já fazia uma no desde que o Boi foi consagrado a Xangô.

84-O Cerimonial das Águas de Oxalá abriu as atividades litúrgicas do Terreiro, seguido da obrigação de Oxum na lagoa a Festa de Oxossi, muito concorrida, Ogumbaragy foi promovido no quartel e se prepara para o cursos de oficial, estimulado pelo comandante que ele levou com a esposa no Terreno.


85-Xangô não desceu no Terreiro em nenhuma das cerimônias, naquele ano. Ba mandou comprar o caixão e preparou o ritual de sua passagem, mandou avisar a todos o dia e a hora de sua subida, com 21 dia de antecedência. Recolheu-se no Caramanchão de Iansã Balé perto do Bambuzal e do Baobá dizendo que era ali que deveria colocar seu corpo para descansar e que falasse com o Padre para providenciar os preparativos legais e paizinho mandar erguer um caramanchão para seu descanso.

86-No dia seguinte paizinho começou a jornada, não dava uma palavra e cuidou de tudo com seus dois filhos ao meio de olhares aterrorizados. De vez em quanto Ba, aparecia e aquecia umas conversas com as crianças ao que os demais se animavam a se acercar de Ba e ter uns dedos de prosas, mas ninguém, falava sobre o assunto, para não contrariar, foi suspenso o pessoal que estava no Ronco, só ficou o doutorzinho, que chegou do Rio e já estava há mais tempo e logo seria seu Barco. Era filho de Trasunan biaron de Logum. Os médicos não saiam do Terreiro, todos eles preocupados com a noticia, pois com mais de 90 anos, Ba, não apresentava nenhum problema de saúde.

87-Madrugada antes de o sol apontar, Ba’ entrou na casa das águas e se banhou por muito tempo, trocando sua roupa litúrgica por uma especial. Mandou os seus guardas chamarem as Tias e Paizinho e os foi para seu caramanchão segurando as roupas que havia despido. Quando o pessoal chegou já lhe encontrou deitada no caixão, disse que em poucas horas seu corpo estaria pronto para o ritual e que poderia fazer a missa de corpo presente, antes dos ritus fúnebres e que o Axexê deveria começar depois da missa de sétimo dia e que seu corpo deveria ser baixado à sepultura levados pelos meninos, após o corteja no terreno.

88- O Dia passou rápido para tantos acontecimentos, mesmo o pessoal sabendo que eventos como este poderia acontecer a qualquer momento, não estava preparado, Frei Obakossô não estava presente, o Pastor também não, Ogumbaragy mandou um telegrama para os Tios e chamou o Padre do povoado, era muito Amigo dos seus Tios e foi ele que celebrou a liturgia fúnebre, confessou deu a extrema unção e quando o sol começou a inclinar, as 14 e 40 o corpo de Ba amoleceu ao gritos de Balé de Francisquinha, sua filha mais antiga, seu primeiro Barco. O ilá foi tão forte que de repente o eco retumbou nos ares acompanhado por uma descarga de raios e trovões, virando o tempo por mais de dez minutos.



89 Os transes se sucederam e o Padre teve dificuldades de cumprir as determinações para o ritual. Paizinho e seus filhos conseguiram os meninos que não estavam em transe e transportou o caixão para o Caramanchão de Santo Antonio, onde o ato foi executado. As tias suspenderam os Orixás e manteve o ato do Padre Arlindo, findo o qual se retirou para dar lugar aos ritus do terreiro, antes se informou quando seria o sepultamento a que lhe disseram não saber ainda, mas que mandaria lhe avisar.

90-O corpo foi preparado por Francisquinha, durante a ação incorporaram diversos Orixás, Ogum, Obaluaiye, Nanã, Oxumarê ,Iansã enquanto isso, As Francisquinha, preparava ao cabeça de Ba’, retirando cabelos do centro da cabeça e lavando com amassi, fazendo incisões e cobrindo com o obí mastigado, a água foi despachada e paizinho que não participou da missa de corpo presente, já estava providenciando as obrigações do Egum e Exu, para o casrrego. Preparado, o corpo permaneceu velado no caramanchão de Santo Antonio, e a movimentação era grande e confusa no Terreno, muitos políticos, autoridades, muitos pais e mães de santos e o impase do sepultamento, não havia condições de ser sepultado ali r como desrespeitar a decisão de B’a’ ainda mais que o Caramanchão já estava pronto.

91-Acertou que esperariam os filhos chegarem, se o corpo agüentasse, esperaria se não, faria o sepultamento. Não aceitaram o formol e nada que modificasse o estado natural do corpo e assim foi feito, na madrugada chegava o Pastor e decidiu que o corpo desceria a sepultura no entardecer do dia seguinte, os preparativos foram providenciados e com a chegada do Frei, e mandado avisar o Padre Arlindo, todo material de Ba’ e seus assentamentos já estavam separados, o Balué já tinha sido preparado, para receber o carrego, pois nada seria destruído, no devido tempo seu Egum seria assentado.

92-Foi iniciado o cerimonial com as oferendas a Egum e Exu, as folhas já colhidas foram repassadas aos presentes e os meninos pegaram o caixão que em passos ritmados, dois para frente e um para traz, foi passando em meio as pipocas que jogavam, e balançar das folhas em cortejo até o caramanchão do sepultamento, entre o Baoá e os Bambuzais. Os sinos do Terreiro dobravam e os Tambores calaram.

93- Diante do tumulo, os meninos que se revezaram retomaram seus lugares para o ritu final, levantaram e arriaram três vezes o caixão e baixaram a sepultura, neste instante ouvia-se o ilá da rasga mortalha , os pombos foram soltos e quando fecharam o mausoléu, os pombos retornaram e pousaram em cima da tumba e começaram a rujuar, uma revoada de pássaros pousaram nos bambuzais e no pé de Baobá, e começaram seus cantos.

94- O grupo civil, não entendia o que estava acontecendo, principalmente o cheiro que foi de repente invadido o recinto, parecia que todo aroma do jardim se concentrou ali. As tias conduziram os ritus de suspender os Orixás abaixados e o cortejo retornou ao caramanchão de Santo Antonio onde foi encerrado o féretro com as palavras do Pastor e Orações do Frei, agradecendo a todos pela presença na vida de sua Mãe e que seus ensinamentos já estavam em prática. Mãe Francisquinha em acordo com Paizinho, lembrou a Missa de sétimo dia e o Axêxê.

95-Mas o Axêxê já havia iniciado, As francisquinha e Paizinho reunidos na caramanchão providenciava o ajuntamento dos pertences de Ba’ e os assentamentos do seu Orixá e na presença dos graduados presente, iniciou o jogo de búzios, para determinar o destino de cada objeto, nada foi quebrado, rasgado ou dado, todo material foi recolhido ao Baluê, o Axêxê foi realizado em dois locais, no Baluê e no caramanchão, onde o corpo continuava, no Baluê o corpo estava representado por uma cabaça onde eram depositado moedas e se realizavam as danças para o egum. No Baluê com reduzida assistência, era realizados os sacrifícios para o Egum e os Orixás, todos estavam com Mariow , os conte Egum amarrados nos pulsos, como proteção, os atabaque foram substituídos por potes, agridais cheio dágua onde as cabaças eram tocadas por varetas.

96-O Iylê Balé. Os otás e ferramentas estavam sendo preparados para serem despachados ou levados para o Baluê e depois transportados para o Iylê Balé. O Axêxê durou um mês inteiro e foi repetido durante todo o ano, findo o qual foi feito a cerimônia do assentamento do Egum de Ba’ seguido do cerimonial da sucessão, pois o legado material que Ba’ deixou tinha que ter continuidade o luto do Terreno continuava na lembrança e no coração de todos, mais os Axés tinham que ser preservados. A missa de sétimo dia foi concelebrada pelo Frei, Padre Arlindo o Pastor e Tia Dagmá, entre muitos choros e transes no exato momento de seu passamento, foi uma atividade conjunta, pois o Axêxê, prosseguiu normalmente intercalado por missas de mês e de ano.

97- O Dia havia chegado, diversos Pais e Mães de Santos de outros terreiros haviam sido convidados para os ritos, todo povo do terreiro ali se concentrava, ocupando as diversas dependências do caramanchão e em torno dele. No centro diversa personalidades do mundo do condomblé reunidas na presença de todos, depois do jogo ter sido feito no caramanchão de Oxumarê e algumas pessoas ter entrado em transe do lado de fora e fora do terreiro, pois chegaram diversas pessoas em transe, vindo da capital e de outros locais. Paizinho e os demais já sabiam a quem caberia o comando do Terreiro, restava, pois confirmar publicamente. O Jogo divinatório, revelado na casa de Oxum Maré teria de ser confirmado ali para todos.

98-Tia Francisquinha, invocou os Orixás, pediu licença, mandou despachar três vezes a porta e passando os Búzios as mãos de Frei e do Pastor, convidou a Mãe de Santo mais velha, ali presente, para fazer o Jogo, do canto saiu uma velhinha que não participou da jogada no caramanchão de Oxum Maré , foi saudada por todos e pegando nos Búzios, repetiu as invocações e virando para o norte, sul, leste e oeste, balançou as mãos sobre o cabeça e gritou uma frase, que não chegou a ser entendida porque Ogum havia respondido e seu grito, foi seguido pelos demais Orixás que incorporavam em seus filhos. Os búzios caíram na esteira que estava no centro do caramanchão coberta por uma toalha branca, depois do ilá dos Orixás, se fez um incomodo silêncio só se ouvia as respirações entrecortadas dos que estavam em transe.

99- Sapatá Mavu mejicam foi o nome que se ouviu e ouviu um silencio espantador, o jogo foi repetido por não ter sido aclamado por diversas vezes e na sétima vez, com seguidas confirmações, ouviu-se um gemido bem distante que foi saudado pelos ilás dos Orixás, adentrou se contorcendo, um adolescente da safra de Ba’, um que vivia todo recolhido, não era sociável, uma criança que parecia um velho, seu amigo era Mateus de Tempo, e de vez em quando ele sumia da vista dos demais e nem as Tias sabiam o que andava fazendo. Era muito inteligente, falava pouco mais era difícil de se ligar a ele porque como dizia Ba, ele vivia encapuzado. A sua iniciação foi sem destaque, seu Erê era mais velho do que ele, Maizinha foi sua criadeira e dizia que o menino era velho demais.

100-A sua entrada iluminou o ambiente e trouxe uma alegria cativante a todos. Houve um transe geral os tambores rufaram num cadenciado Aguerê, o Frei entrou em transe para Paizinho que tudo observava, o transe do Frei, era a presença de Xangô que retornava ao convívio do Terreiro, era a saudação a Ba’ era a nova expressão, mandou aparamentar o Orixá para a dança de saudação e no meio de tudo isso, o Orixá do sucessor disse o Orunkô de Ianassô a neta de Ba: - Iya Ogumté Sôbô. O Xangô do Frei, retornava ao caramanchão e saudou Sapanã e juntos dançaram ao som dos Batakotôs o Alujá e logo em seguida o Opanijé.

101- A alegria foi demais, Paizinho chorou, Ba’ deixou seu sucessor na casa dos meninos. O garoto tinha 16 anos e iria comandar o maior terreiro da terra de Sergipe terra dos maiores macumbeiros e os mais temidos do Brasil. Uma revoada de pássaros passou como para saudar o novo Babalorixá que trouxe o nome de sua sucessora. Imediatamente o Orixá foi recolhido ao caramanchão de Obaluaiê para os ritos finais de identidade e lá foi confirmado, ficando ali recolhido para a sagração litúrgica, de onde só sairia vinte e um dias depois. Estava encerrada a etapa, mais uma vez a unidade do Terreno era fortalecida.

102- O novo sucessor era órfão e foi criado por duas mães, seu nome: Manoel Marionaldo de Santana, filho rejeitado e abandonado na porteira do Terreno, adotado por Tia Martinha Eutasquiu Santana e seu Afilhado Marionaldo de Maria das Dores. O garoto foi iniciado quando pegou uma doença de pele, que ninguém dava jeito, foi paizinho, seu pai pequeno que sugeriu jogar os búzios para verificar o que ocorria e não deu outra. Foi recolhido e no terceiro dia, após os primeiros carregos já tinha o corpo diferente e quando saiu do quarto, já não tinha nenhuma marca, o seu Orunkô; Sakpatá Mavu de Megican. Um Orixá difícil e temido com domínios na Lama e não era atôa que o menino não saia perto da Lagoa de Nanã, estava sempre sujo de Lama e foi quem descobriu o Baobá.

103- A festa da Sucessão foi muito concorrida, despertou muita curiosidade, um menino no comando de uma Nação tão respeitada. A sua entrada no caramanchão, acompanhada dos Orixás, foi saudada com muitos fogos, muita alegria, dançou como jamais algum Orixá tinha dançado ali, o rum foi caprichado, acompanhou a todos os Orixás que lhe seguiu e depois depositou seu cajado nos pés de francisquinha, provocando seu transe e confirmando a continuidade das ações. A Iyansã de Francisquinha dançou e dançou, rodopiou e provocou uma tempestade de ventos que só sentia os que ali estavam. Seu ilá soou forte e continuo. Dançou o aguerê com Obaluayê. Ê Atô to.

104-O menino parecia mais alto e mais presente, deixou de se esconder e se relacionava com todos, querendo saber tudo e de tudo participava, da tiragem de leite das cabras a construção e limpeza do Terreno. Atendia a todos os que chegavam nas presenças das tias. Quando desaparecia, todos já sabiam onde estava: No caramanchão de Ba’ ou nos pés do Baobá. Muitas cartas e telegramas eram mandados da África, mais ele só lia depois dos outros e levava os documentos para depositar no caramanchão de Ba, dizem que ele falava sempre com ela, principalmente no alvorecer e nunca escapava dos olhos de paizinho e dos seus guardiões.

105-O Sol despontava por traz do Baobá e a revoada de bandos de pássaros e dos pombos, davam um colorido e uma expressão de sonhos e a luz se espalhava brilhante e lúcida naquela manhã primaveril, o prado despertando com o gotejar da água de suas folhas orvalhadas, que anunciando o calor do Sol num despertar para a vida. O Baobá estava florido os Mulunguns, viçosos com suas flores compunham a Paz. Toda área resplandecia de um perfume que chegava não sei de onde e misturava seu aroma com o mar de luzes e coro das aves, o cantar dos galos, mugir dos bois, relinchar dos cavalos, berro das cabras e bodes, cacarocar das galinhas.

106-Uma sombra desceu rapidamente sobre os pensamentos e visões de paizinho, que era observado de não muito longe, por seus dois filhos e
Bamavu como era chamado o novo sucessor, que parecia sonhar o seu sonho e ver a sua visão. O silencio se fez mais frio, com uma revoada de pombos que alçava vôo e o trinado insistente dos passarinhos. O olhar de paizinho cruzou com os olhares dos seus filhos e Bamavu. Seus olhos marejaram e como os orvalhos nas folhas, gotejaram. Um silvo ecoou no espaço e o ilá foi ouvido por todo Terreno. Êparrei Iyansã! Era a saudade
de Ba’.

O SOL NO EQUINOCIO DE EXU






CONTO by : SEVERO D’ACELINO
Para Denise D’Ogum..

O SOL NO EQUINOCIO DE EXU

O alvorecer daquele dia, anunciava tranqüilidade e uma certa ilusão, não só pela expressão do mistério que circundava no ar, uma sensação sufocante de mistérios e eu ali, parado contando estrelas imaginárias no bico do meu sapato um tanto já desgastado e sem sola.
O vento, na verdade, uma aragem quente, uma lufada arremessou meus pensamentos e mim deixou de repente, desconfiado. Ali, sozinho, sentir presenças estranhas e fiquei fora da realidade, em órbita, um calor sufocante, acreditei ser a passagem de umas nuvens, deixando projetar sobre mim, os raios do Sol, que se alevantava já naquela hora, como se fosse desértico ao meio dia.

Eram mais de cinco horas da manhã que prometia ensolarada, prenunciando um dia sufocante. O Galo cantou e eu ali, sentia a intensidade do calor insuportável como se o Sol se aproximasse a cada instante, busquei proteção dentro de casa, mas sair incontinente, os olhos ardiam e instintivamente busquei o porrão para mergulhar minha cabeça já em brasa.
De repente o clarão se intensificou e um vento frio amenizou o calor matinal que sentia. O pessoal desperto com o raiá do dia, mantinha seus afazeres sem nenhuma novidade, a mesma rotina e não demonstrava desconforto algum, era como se nada estivesse acontecendo e, eu somente eu, vivia uma situação surreal. Via o Sol em movimentos muito baixo, em circulo e cada vez mais aumentava sua velocidade.

Uma visão alucinada da transformação do Sol em tocha circulante, provocando aquela reação só em mim, um calor abrasante que só atingia a minha sensação, era delírio, visão assustadora, perdi a noção do tempo, de tudo e percebi que a mudança de humor e de temperatura não era real, busquei respostas nos jogos divinatórios e a resposta foi esclarecedora: o Sol no equinócio de Exu, anunciava mudanças, os axés estavam enfraquecidos e Exu se movimentava em círculos anunciando aos Orixás os fundamentos dos axés enfraquecidos pelo povo cansado de caminhar em circulo sem encontrar a estrada do caminho fechado, visível só para poucos que sabiam olhar .
Minha visão potencializou e meu corpo enrijeceu, já não sentia nada, o transe levou meu corpo a rodopiar como folhas secas ao vento e ninguém se importava, ninguém se dava conta do que se passava comigo, o Sol se manifestava em círculos constantes e em torno dele e por mim passavam os Orixás acompanhando seu Arauto que de frente acompanhava o movimento do Sol.

Percebi o sentido da mutação e fiquei ao léu, juntando as folhas secas buscando perceber suas árvores que se desfolharam e se renovavam neste equinócio que Exu, apontava para a revitalização do ritu, que perecia, como um Rio assoreado.

O desprezo e abandonos a que os Orixás se encontram por parte dos seus filhos e seguidores, as mudanças dos rituais e hábitos nas Roças, nos Terreiros e Comunidades, dispersam e fragilizam os Axés enfraquecendo as raízes, expostas no dia-a-dia da relação com os Deuses e Ancestrais no refluxo dos movimentos das relações com os rituais.
O abandono dos territórios sagrados, profanados pelos silêncios dos maiores, os iniciados,descuido dos mais velhos, muitos indo para os ancestrais, ampliando o vazio da sabedoria nos rituais que transforma a cada movimento perdido na quebra de quizilas.
Exu reclamava do desequilíbrio e da punição como força revitalizadora de uma nova estação para fortalecer o axé e promover uma mudança de comportamento alinhada à tradição da recriação ancestral no culto sagrado.
Sem perceber, acompanhava os movimentos circulares do fluxo do equinócio e no refluxo dos ventos e vi os Charcos, Lagoas, Pantanais, Rios, Cachoeiras, Mares, Mangues, Marés, Matas e toda natureza que os Orixás apontavam, Planaltos , Montanhas e o barulho do Trovão.
Vi as praias , maremotos, tempestades, enchentes dos Rios, inundando prados, cidades, ventanias derrubando montanhas de árvores, matas em fogaréus, bichos e pássaros morrendo, como as raízes do Baobá, vi o que quiseram que eu visse, para celebrar a trajetória dos ancestrais na virada do Tempo quebrado na força da destruição. Kosi Obá! kosi Ewe, kosi Orixá Sem ás folhas não há Orixá, não há saúde, porque o remédio que cura e mata a doença vem de Orumilá.
Todo encolhido, fui despertado pelo berro de bodes e ovelhas, percebi que estava sem roupas, meu corpo tremia de frio, mesmo com o dia posto. Estava não sei aonde e fui atendido por um bando de garotos que buscaram em suas casas roupas e panos para mim cobrir, ariado, não sabia o rumo a seguir e fui acolhido como indigente, por uma família moradora de uma casa de taipa na beira do Rio o rio da sabedoria nesta casa de anciões.

Como andarilho, visitei a região, conheci a devastação, a seca, a fome, queimadas e transgressões. Vi tempestades e inundações, pastos desérticos, terra rachadas e ar sufocante. Era o Sol no circulo de Exu, dando o mesmo tempo para os movimentos dos elementos da natureza, indicando caminhos de sustentação no espaço sacralizado, profanizado pelos infiéis.
A Terra, Fogo,Água e o Ar, se voltam contra as expressões agressoras da vida promovendo mudanças para o equilíbrio do sistema orbital. O desequilíbrio do ecossistema, marca profundamente a fragilidade, desinteresse e fragilidade dos rituais, principalmente nas zonas urbanas, um culto rural, ecologicamente integrado na fauna e flora em processo de devastação crescente.
O Sol no equinócio de Exu trava o circulo de alerta para a descaracterização dos ritus e fragilidade dos rituais, das transgressões de quizilas e a falta de sucessão e fortalecimento da herança sacramental.

As Queimadas, Temporais, Degelos, Desmatamentos, Imundações, Incêndios, Poluição, Deslizamentos, Aquecimentos,Enchentes, Sol causticante, Chuvas Torrenciais, Ventos Tempestuosos, devastador,marcam as reações dos Quatros Elementos, como os Cavaleiros do Apocalipse, a fúria dos Orixás pelos seus fundamentos expostos como veias, sangrando na superfície, perdendo seus axés,morrendo dia-a-pós dia, numa pandemia que se alastra no ar.
As obrigações más feitas, as festas as vaidades, onde se preocupam com fantasias e luxos, esquecendo os fundamentos dos Orixás, os rituais, as quebras de quizilas, preceitos,mudanças de axés, casas, pais, mães devidos a cada ritual.Exu segue á frente do cortejo, revendo a fragilidade e acenando a luz da escuridão no brilho do Sol.
O Equinócio de Exu, anuncia mudanças, morte pelo fogo,ar,terra e água buscando a vida, renascida pelo oráculo daquele que ontem comeu o ebó que só hoje foi ofertado, anunciando a visitação revisitada, renascido do pântano sobre as sombras do Baobá.Salubá
Iya mió.

Peguei uns papeis que rodavam como folhas ao vento, um estava escrito assim: (*)“A palavra “Exu” significa, em ioruba, “esfera”, aquilo que é infinito, que não tem começo nem fim. Exu é o principio de tudo, a força da criação, o nascimento, o equilíbrio negativo do Universo, o que não quer dizer coisa ruim. Exu é a célula mater da geração da vida, o que gera o infinito, infinita vezes.
É considerado o primeiro, o primogênito; responsável e grande mestre dos caminhos; o que permite a passagem o início de tudo. Exu é a força natural viva que fomenta o crescimento. É o primeiro passo em tudo. É o gerador do que existe, do que existiu e do que ainda vai existir.
Exu está presente, mais que em tudo e todos, na concepção global da existência. É a capacidade dinâmica de tudo que tem vida. Principalmente dos seres humanos que carregam, em seu plexo, o elemento dinâmico denominado Exu.
É aquilo que no candomblé chamamos de Bára, ou seja “no corpo”, preso a ele. É o que nos dá capacidade de agir, andar, refletir, idealizar. Sem o elemento Bára, a vida sadia é impossível. Sem ele, o homem seria excepcional, retardado, impossível de coordenar e determinar suas próprias atitudes e caminhos de vida..
Realmente, Exu está presente em tudo. E damos como exemplo inicial a concepção da geração da vida. O membro ereto do macho tem a presença de Exu- aliás, em terras da África, o membro rijo é o símbolo da vida, o símbolo de Exu - ; a penetração na fêmea, tema a regência de Exu; a ejaculação é coordenada por Exu; o percurso do espermatozóide dentro da fêmea, é regido por Exu; também na fecundação do óvulo Exu está presente. E quando a primeira célula da vida esta formada, a presença de Exu se faz necessária. Já na multiplicação da célula, a regência passa por Oxum, que vai reger o feto até o nascimento.
Exu também está presente no calor, no fogo, na quentura. Presente se faz nos lugares poucos arejados, nos lugares onde existem multidões, nos ambientes fechados e cheios.
Exu está na alteração do ânimo, na discussão, na divergência, no nervosismo. Está presente no medo, no pavor, na falta de controle do ser humano. Também está perto na gargalhada, no riso farto, na alegria incontida. Para nós brasileiros, amantes do futebol, Exu está presente no grito de “gol”, que soltamos de forma feliz e nervosa. É o desprendimento do nervosismo contido no peito.

Exu é a velocidade, a rapidez do deslocamento. É a bagunça generalizada e o silêncio completo. Diz-se que Exu é a contradição. É o sim e o não; o ser e o não ser. Exu é a confusão de idéias que temos. É a invenção, descoberta. Exu é o namoro, é o desejo, é o sentimento de paixão desenfreada e é também o desprezo. Exu é a voz, o grito, a comunicação. É a indignação e a resignação. É a confusão dos conceitos básicos. Aquele que ludibria, engana, e confunde; mas também ajuda, dá caminhos, soluciona. É aquele que traz dor e a felicidade.

Para se ter uma noção do comportamento e da regência paradoxal de Exu, cito um de seus Oriki (versos sarados), que diz;
“ Exu matou um pássaro ontem, com a pedra que jogou hoje”
Assim, pode-se ter uma idéia exata de quem Exu é, como é, e como rege as coisas. Ele esta presente em tudo..... Em nada.
Exu esta presente no consumo de substâncias tóxicas, no álcool, na droga, no fumo. Ele é o sólido, o liquido e o gasoso. Está nas conversas de esquinas, de bares, de restaurantes, de praças. Está na aceitação ou recusa de qualquer coisa.
Está presente também nas refeições, pois ele é quem rege o ato de mastigar e engolir. A gula é atributo de Exu. Está no coito, no prazer sexual, na preguiça; mas também está presente na disposição, na energia, sem querer com isso carregar peso, pois Exu não gosta de carregar peso. Outro Oriki fala claramente sobre esta sua particularidade:
“ Xonxô obé, odara kolori erú”
”A lâmina (sobre a cabeça) é afiada; ele não tem cabeça para carregar fardos”
Exu é tudo isso e mais. Fogo é o seu elemento, mas a Terra e o Ar são bem conhecidos de Exu. É a presença constante!
Exu é filho de Iemanjá e irmão de Ogum e Oxossi. Dos três é o mais agitado, capcioso, inteligente, inventivo, preguiçoso e alegre.É aquele que inventa historias, cria casos e o que tentou violar a própria mãe.
Numa de suas muitas histórias, podemos entender exatamente suas capacidade inventiva, sua conduta maquiavélica e sua maneira pratica de resolver seus assuntos e saciar seus desejos.

Conta-se que dois grandes amigos tinham, cada um deles,um pedaço de terra, dividido por uma cerca. Diariamente os dois iam trabalhar, capinando e revirando a terra, para plantio.Exu, interessado nas terras, fez a proposta para adquiri-las, o que foi negado pelos agricultores. Aborrecido, mas determinado a possuir aqueles dois terrenos, Exu procurou agir. Colocou na cerca um boné. De um lado branco, de outro vermelho. Naquela manhã, os amigos lavradores chegaram cedo para trabalhar a terra e viram o boné na cerca. Um deles via o lado branco e outro o lado vermelho.
Em dado momento, um dos amigos pergunto: - “O que este boné branco faz em minha cerca?” Ao que o outro retrucou: - “Branco? Mas, o boné é vermelho!”
- Não, não, amigo. O boné é branco, como algodão!
- Não, não é mesmo! É vermelho como o sangue!
- Não sei como você pode ver vermelho, se é branco, está louco?
- Não, o louco é você, que vê branco, se a coisa é vermelha!
Bem, daí desencadeou-se a maior discussão, até chegarem à luta corporal. E com as mesmas ferramentas de trabalho, mataram-se.
Exu, que de longe assistiu a tudo, esperando o desfecho já imaginado por ele, aproximou-se e assumiu a posse das terras, não sem antes fazer um comentário, bem ao seu estilo:
- Mas que gentes confusas, que não consegue solucionar problemas tão simples!
Esse é o tipo de Exu!
Não quero passar a impressão de que se trata de uma coisa ruim, má, mas Exu é nosso próprio interior, é a nossa intimidade, o nosso poder de ser bom ou mau, de acordo, com nossa própria vontade. Exu é o ponto mais obscuro do ser humano e é, ao mesmo tempo, aquilo que existe de mais óbvio e claro.
Assim é Exu, Senhor dos caminhos, pai da verdade e da mentira. O Deus da contradição, do calor, das estradas, do princípio ativo de vida. O mestre de tudo... e nada!

O outro trazia esta,outras palavras:Ossain deus das ervas, dono das matas, orixá da medicina, da cura, da convalescença. Mestre do poder curativo das ervas, que proporciona o Axé das plantas , ou seja, a força vital, imprescindível à realização de qualquer ritual nos cultos africanos.
Ossain é a mágica das folhas, tornando mágica, também, sua convivência com os seres humanos.
Nos dias em que o homem agride a natureza, derrubando árvores, fazendo queimadas, numa atitude covarde e insensata, Ossain se levanta como defensor, pois ele é a própria Ecologia. Ossain é a folha,; a árvore; o vegetal; a mata; a floresta, a qual quanto mais densa, mas faz notar sua presença.
Ossain, de um bilhão de formas, tamanhos, cheiros e essências. O segredo do poder de curar pela planta está com ele, é proporcionado por ele.
Nos rituais do Candomblé o banho de ervas – Abo – é vital, imprescindível. Tudo é passa no Abô. Desde louças, travessa de barro, moedas, pulseiras, búzios, quartinhas, facas, colheres de pau, gamelas, até o próprio home, que vai se banhar e se purificar pelas ervas. O Abô é algo que não pode faltar nos rituais, que vai dar o encanto, vai possibilitar a presença da força cósmica do Orixá. Mesmo nos sacrifícios animais, canta-se para Ossãe – mesmo que o sacrifício não seja para ele – pois dele dependerá o encantamento daquele ato sagrado. É Ossain que trará a calma, a paz, o encanto, para que o ritual transcorra bem.

Realmente, Ossain é o encanto, a magia. E é por isso que quando se vai à mata buscar ervas leva-se fumo de rolo, mel e moedas, para dar o Senhor das matas e facilitar a busca da erva desejada, pois Ossain pode escondê-la de nós, criar uma ilusão de ótica e não permitir que a vejamos, mesmo que esteja à nossa frente, debaixo de nossos olhos.
Ossain está presente nos momentos importantes da vida. Na salvação de uma vida, através da medicina; nos consultórios. Afinal, Ossain é o alquimista, o químico, o farmacêuticos, o Senhor das poções mágicas e curativas. É o feiticeiro, o bruxo, o medico dos Orixás, conhecedor profundo do segredo de todas as ervas.
É o pai da homeopatia; aquele que gera a capacidade de cura, pela ingestão ou aplicação de plantas medicinais. E está presente, também, no cotidiano, pois estamos sempre muito próximos do mundo vegetal. É por isso que não devemos arrancar folhas sem motivos justos; derrubar árvores ou fazer queimada, pois estaremos violando a natureza, ofendendo seriamente esta poderosa força natura que denominamos Ossain.
Sentimos ainda mais sua presença quando estamos num horto, em meio às ervas. Ossain é a mágica da folha, a sombra que nos proporciona paz, tranqüilidade e harmonia.
Ossain e filho de Nana, irmão de Obaluaê, Oxumarê e Ewá. Sempre foi muito circunspeto, introvertido, pensativo. Ainda jovem, partiu para floresta – que sempre o atraiu – e lá estudo as plantas, as árvores e aprendeu o segredo das ervas, cuidando dos animais feridos e fazendo experiências.
Deteve, assim, o domínio do poder das ervas. E sempre que algum outro Orixá precisava de uma planta, de uma erva, devia, em primeiro lugar, pedir autorização a Ossain, e o senhor do verde.

Xangô, Rei de Oyó, achando que todos deveriam ter o conhecimento das ervas, pediu à Iansã, Senhora dos ventos, que convencesse Ossain a dividir com os demais Orixás os mistérios e os segredos do uso da planta. Ela, por sua vez partiu para a floresta, sacudiu sua saia e fez gerar uma forte ventania, espalhando as folhas por todo o reino de Oyó e outro como Ketu, Ifé, Oxogbô, Abeokutá, Numpé, etc.
Ossain assistia a tudo de forma impassível. Via suas folhas indo em direção a todos os reinos, sem dizer uma palavra. No fundo, o alquimista sabia que estavam dividindo as plantas, as espécies e nada podiam fazer diante de tão forte ventania.
Vitoriosa, Iansã voltou ao reino de Xangô, certa do dever cumprido. Na floresta, Ossain lamentava o vento que espalhara suas folhas mas, intimamente, sorria de forma irônica e comentou consigo mesmo:
- De que adianta as folhas, sem o segredo? De que adianta possuir a erva, sem o mistério? De que adianta possuir o ingrediente mágico, sem o poder de gera a magia?
Assim, Ossain continuou como o mestre das ervas. Embora os outros Orixás também tenham suas folhas, ficou com Ossain o segredo e a forma de encantá-la. De nada adiantou terem as folhas, se não sabiam usá-la ou aplicá-las. Para isso, continuaram a depender de Ossain que, sabendo perdoar, continuou a curar, a dar receitas para gerar o encantamento, pois nada podia ser feito sem as ervas. Nenhum ritual daria certo sem o encanto das folhas, como até hoje.
Por isso, o africano nos ensinou, através de um Oriki (verso sagrado) o que significo, exatamente, o poder de Ossain:
“Sem folha não há orixá, não há o Axé”:.
Kosi ewe, Kosi orisa.
Anunciando compreensão da órbita do equinócio de exu, onde o Sol iluminou a escuridão, devassando a inércia do tempo e sua ação transformadora, exemplificada na reação dos elementos.A continuidade histórica da transferência sagrada da sabedoria dos Ancestrais.

Kobá Laroiê
O enfraquecimento do AXÉ esta na poluição dos Cincos Elementos
Severo D’Acelino
1-2)(*)http://dofonodelogum.sites.uol.com.br/exu.html